Por Fernando Calmon
Até 2015, o mercado interno chinês alcançará o nível anual de 25 milhões de veículos. Como comparação, o melhor resultado de vendas nos EUA, que liderou o mundo por mais de oito décadas, ficou em torno de 18 milhões em 2005. No continente europeu, incluídos mais de 30 países, foram vendidas 18,5 milhões de unidades em 2007.
O cenário hoje é bem diferente. Os EUA esperam uma recuperação este ano para 12 milhões, depois de terem caído para menos de 10 milhões em 2009. Analistas acham difícil que esse mercado possa se restabelecer acima de 15 milhões/ano. No Salão de Genebra, em março último, Frédéric Banzet, diretor-geral mundial da Citroën, afirmou à coluna que a Europa se encontra no patamar de 15 milhões/ano, mas não tem a menor ideia se e quando voltará aos18 milhões. E emendou que, no Brasil, a produção da marca acompanhará firmemente a demanda.
Por isso mesmo, a China esteve no centro das atenções do concorridíssimo II Fórum da Indústria Automobilística, realizado em São Paulo pelo grupo Automotive Business. Sérgio Habib, importador de uma marca desconhecida como a JAC e protagonista da pujança chinesa, procurou amenizar: “Estamos vendendo acima das previsões, mas não ocorrerá uma invasão. É difícil e muito caro montar uma grande rede de vendas e assistência no Brasil”. Ainda assim, acrescentou que poderá comercializar 100.000 unidades em 2012, volume invejável. “Mais do que isso, precisa montar fábrica aqui. Custos logísticos se tornariam insuportáveis.”
Marcelo Cioffi, da consultoria PWC, também abordou o tema. Disse que o governo chinês tenta consolidar sua indústria para colocar pelo menos uma marca sua entre as cinco maiores do mundo.
Pelo gigantismo daquele mercado, de fato, pode ocorrer. Dos problemas a resolver, a coluna aponta os de qualidade, segurança, falta de acesso às chamadas tecnologias sensíveis e inevitável aumento do custo da mão de obra. Alcançar aquela posição não significa estar entre os cinco melhores.
O mundo, no entanto, segue de olhos abertos para o Brasil. Fernando Barbosa, do Bradesco, destacou a grande elevação do número de famílias com poder aquisitivo para comprar um carro. “Em 2020, 58% da população fará parte da classe média”, adiantou.
O otimismo só ficou de lado ao se discutir a competitividade da produção local, em particular na indústria de componentes. Em curto prazo, fabricantes japoneses sairão prejudicados em razão da irregularidade no fornecimento de peças como reflexo dos terremotos e maremotos no país do Extremo Oriente. Outros fabricantes seriam parcialmente afetados.
Espera-se para os próximos dias o anúncio de um programa governamental que tentará dar suporte ao crescimento de vários setores, hoje em condições reduzidas de competir com produtos importados ou exportar. Paulo Bedran, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, pouco pôde adiantar. Comentou a necessidade de reequilibrar a concorrência, tendo em vista que a atual alíquota de 35% do imposto de importação perdeu efeito em função da valorização do real.
Basta um exemplo das mazelas do País: utilizar cabotagem no transporte veículos depende de navios específicos. Estes, simplesmente, não existem.
RODA VIVA
NOVO EcoSport, que está sendo projetado em Camaçari (BA) em parceria com outros centros da Ford, terá missão estratégica no portfólio mundial da marca. Será maior que o modelo atual e menor do que o Kuga (europeu) e o novo Escape (americano), ambos baseados no Focus. Lançamento mundial está previsto para 2013. Na China...
HONDA antecipou os previstos 10 dias de férias coletivas da fábrica de Sumaré (SP) para o período de 23 de maio a 3 de junho, prevendo dificuldades com as peças provenientes do Japão. Situação das outras marcas japonesas também é vulnerável. Em especial a Toyota: notícias do exterior indicam que, antes de novembro, a normalização total não deverá ser alcançada.
COROLLA XEi é bom exemplo de como concentração da fábrica em um único produto pode ser benéfica. Avaliação do modelo 2012 demonstrou evolução em acabamento e qualidade construtiva. Motor de 1,8 litro está melhor que o anterior, mas falta a quinta marcha no câmbio automático. Ponto alto: suspensão bem firme, comportamento impecável.
PRIMEIRA usina no mundo a produzir, em escala comercial, 50 milhões de litros de etanol/ano, a partir de restos agrícolas e florestais, será inaugurada na Itália, em 2012. O chamado etanol celulósico ou de segunda geração depende de enzimas, especialidade da Novozymes. A empresa, já instalada no Brasil, estuda a mesma técnica para bagaço de cana.
CORRIDA em direção aos pneus “verdes” – menor atrito de rolagem – continua. Além da Continental, a Pirelli estendeu aplicação de sílica em três linhas: P1 (carros de entrada), P7 (médios) e Scorpion (picapes/SUV). Pequeno aumento do preço é compensado pela economia de combustível. Difícil mensurar, mas a vantagem no bolso existe, além do ganho ambiental.