Fazer esta coletânea não foi tão fácil. O objetivo não era reunir os nomes de veículos que mais marcaram, mas sim os casos mais curiosos ou os nomes mais bem elaborados. Um deles sequer batizou o modelo em questão - e você saberá o porquê. Procurei selecionar um modelo de cada uma das quatro grandes montadoras nacionais. Acompanhe abaixo alguns dos símbolos da difícil tarefa de nomear um carro, um objeto de desejo de muitos (ou da maioria).
Gol
GOOOOOOOOOOL! Quem nunca ouviu esse berro, certamente, está mentindo. Em pleno país do futebol, a Volkswagen lança o sucessor do Fusca, em 1980. Com linhas extremamente quadradas, o nome profético foi dado ao veículo que seis anos depois se tornou o modelo mais vendido do Brasil, cujo título permanece até hoje, perdendo apenas para o Palio, Uno e Tipo em algumas situações. O nome relacionado ao futebol também deu origem à versão Copa, que comemorou a Copa do Mundo de 1982, na Espanha, a Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, a de 2006, na Alemanha e a de 2010, na África do Sul (nesta, a versão se chamou Seleção). Mesmo com a recente briga acirrada com o Uno, o Gol continua goleando as vendas dos concorrentes. Curiosidade: o Gol tinha um substituto planejado, com algumas inovações para o mercado e design diferente. Seria lançado no fim dos anos 1980. Seu nome? By.
i9
O que seria isso? Um modelo da Hyundai? Errou. Se pensou no isotônico da Coca-Cola, acertou. Então, o que ele estaria fazendo aqui? A Ford contratou uma empresa de publicidade antes do lançamento do Novo Ka, em dezembro de 2007, para a sugestão de um nome para o modelo, que prometia revolucionar (e revolucionou, de fato) o anterior. A Ford, porém, não utilizou o nome i9. Com a desistência, manteve o nome Ka. E, ao invés de Ford i9, se tornou o isotônico i9.
Besta
A van coreana, que fez sucesso no Brasil devido aos impostos baixos de importação, foi importada entre meados da década de 1990 até o ano de 2005, quando deixou de ser produzida pela Kia. O nome foi dado à ela na Coreia do Sul, mas, no Brasil, o nome refere-se, de acordo com o dicionário Online Priberam, uma pessoa estúpida, tola. Isso não impediu que o modelo vendesse bem, mas gera piadas até hoje.
Fusca
O nome original do Fusca era Volkswagen Sedan. Ao longo dos anos, ele foi chamado também de VW 1300, 1500 ou 1600, de acordo com sua cilindrada. A origem do apelido vem da pronúncia da palavra Volkswagen em alemão, que, em uma transcrição errônea, seria Fôlquisvaguem. Ao abreviar para VW, passou-se a pronunciar fauvê, inclusive no Brasil, quando as primeiras unidades passaram a ser importadas. De fauvê, foi modificando-se até chegar a "fulque" e "fuca", por questões de fonéticas. Em algumas regiões, como no Sul, falava-se "fuca" ou "fuque" (Rio Grande do Sul e Paraná, respectivamente), mas pronúncia paulista prevaleceu. O apelido se tornou popular, mas passou a nomear o VW Sedan no Brasil oficialmente apenas em 1983, 3 anos antes de sair de linha pela primeira vez.
Uno (Mille)
O nome Uno veio, é claro, da Itália, onde o modelo foi lançado em 1983. Em italiano, significa "Um", o que expressa a singularidade do modelo urbano, cujo design foi criado por Giorgetto Giurgiaro para que o modelo fosse voltado, principalmente, para o uso urbano. No Brasil, 6 anos depois de seu lançamento, especificamente em 1990, surgiu o Uno Mille, a versão 1.0 do Uno, para aproveitar a isenção de impostos para os modelos com até 999 cm³ de cilindradas imposto pelo então governo Collor. Coincidentemente, uma concordância interessante ocorreu. Mille significa mil em italiano. Uno Mille, um mil. Tão simples quanto o carro que batizou.
Palio/Siena
Na década de 1990, com a "europelização" da maioria dos modelos vendidos no Brasil, surgiram nomes até então diferentes em relação aos nomes antigos (Opala, Caravan, Fusca, Kombi). Os nomes, apesar de diferentes, tornaram-se comuns devido a fácil assimilação fonética de ambas as palavras que, por sinal, referem-se à cidade italiana Siena, na região da Toscana, e à competição local Palio.
Del Rëy
A Ford, apesar da origem norte-americana, apelou para o espanhol para nomear o modelo top-de-linha de sua linha brasileira em 1982. O nome sugere superioridade. Em tradução literal, significa "Do rei". O sedan de grande porte, seguindo a regra dos sedans dos Estados Unidos, foi por muitos anos um dos modelos mais luxuosos do Brasil. Saiu de linha em 1991, quase intocado, no quesito estilo. Um substituto inspirado no Maverick americano chegou a ser produzido como protótipo no fim da década de 1980, mas ele acabou sendo substituído pelo sedan Versailles, produzido a partir do Volkswagen Santana, na famosa aliança Autolatina (Ford - Volkswagen).
Vectra/Omega
Mais um exemplo da europelização dos modelos brasileiros, o nome Vectra apenas passou a representar um nome forte no mercado automobilístico quando sua segunda geração foi lançada no Brasil, em 1997. Referência em modernidade em todo o mercado nacional na época, marcou pelo design, pelo luxo e por pequenos detalhes, como os retrovisores que "surgiam" no capô. Hoje, o Vectra brasileiro resume-se ao antigo Astra europeu. Infelizmente, não ganhará sucessor e sairá de linha em breve, substituído pelo sedan Cruze. Já o Omega marcou por ser um dos mais luxuosos do país. O seu nome refere-se à letra grega Omega, Ω.
147
Nomes com números, em tese, deveriam ter difícil assimilação por boa parte dos consumidores. É muito mais fácil falar "Fiesta" do que "Duzentos e seis", "quatrocentos e oito" ou "três mil e oito". E, por costume, poucos falavam "dois zero meia", "quatro zero seis". Apesar disso, o precursor não foi um francês, mas um italiano, que inaugurou a Fiat no Brasil, em 1977. O 147, chamado de "cento e quarenta e sete", marcou pelo seu tamanho, economia e por ser o primeiro carro da Fiat no Brasil. Publicidades como o consumo baixo ao atravessar a recém-inaugurada Ponte Rio - Niterói, e subir a escadaria da Igreja da Penha como um jipe, realçou a fama do hatch, que conviveu com o Uno até sair de linha em 1986.
Kombi
A Kombi foi lançada no Brasil em 1957, pouco tempo depois do lançamento do Fusca no Brasil. Apesar de ser um veículo de carga, a sua variante de passageiros fez muito mais sucesso. Ao longo do tempo, virou, inclusive, motor-homes, no Brasil e no mundo. A Kombi, no Brasil, virou sinônimo de van. Não no sentido de categoria, mas gramatical, mesmo. Em um país onde o transporte alternativo atualmente ainda é grande, poucos falam que vão "pegar uma van", muito menos que vão "pegar uma Jumper ou Sprinter". Falam que vão "pegar uma Kombi". Linhas alternativas são chamadas de Kombi. "Tem uma Kombi que passa ali e te leva até a Dias da Cruz". E por aí vai. Virou um símbolo. O carro em si também, tanto que permanece a mesma desde 1957, com alterações em 1978 (reestilização) e em 2006 (novo motor 1.4, refrigerado a água).
Astra/Kadett
Uma outra curiosidade da GM. O Kadett, por aqui, seria chamado de Astra. Lançado por aqui em 1989, a marca decidiu não nomear o hatch de Astra porque uma das marcas de vaso sanitário brasileiras na época se chamava Astra. Para evitar piadas de mau gosto, a Chevrolet decidiu chamá-lo de Kadett - que não terminava com a, diferentemente da maioria dos lançamentos da marca dali para frente (incluindo a perua do Kadett, a Ipanema, o Omega, o Corsa, a Suprema...). Coincidentemente, o substituto do Kadett foi justamente o Astra, quando começou a ser produzido no Brasil em 1999. O Kadett saíra de linha no ano anterior. Apesar disso, o Astra já era vendido no Brasil antes de sua nacionalização, importado da Bélgica, sendo uma opção mais familiar que o Kadett, que era considerado uma opção esportiva. Enquanto o Kadett GLS custava em torno de R$ 19.000, o Astra custava R$ 17.900.