Por Fernando Calmon
Nunca se falou tanto em alternativas ao petróleo para que o mundo continue a desenvolver sua indústria de transportes, seja de pessoas ou bens. O primeiro automóvel para cinco passageiros, totalmente elétrico, a estar à venda e em produção seriada, o Nissan Leaf, ganhou o título muito cobiçado de Carro do Ano, na Europa, em 2010. As unidades encomendadas desde abril do ano passado começam a ser entregues no Japão e nos EUA no final do ano.
O Leaf não é barato – mais de R$ 150.000,00 se importado para o Brasil – e sua produção inicial, de apenas 20.000 unidades/ano. Faz parte de uma aposta pesada de US$ 5,5 bilhões da Aliança Renault Nissan que preferiu pular a etapa de hibridização. Essa se trata de uso conjunto de um motor a combustão interna e outro elétrico com a ajuda de baterias recarregáveis a bordo ou, por preço maior, também em tomadas elétricas. Os chamados híbridos plugáveis estão chegando lentamente ao mercado. Por enquanto, o único é o Chevrolet Volt.
O momento atual de fervilhamento de ideias trouxe uma proposta ainda bem incipiente. Como está na moda a fusão de palavras, o conceito atende pelo neologismo de tribridização. Parece um termo complicado, mas é o híbrido com uma terceira fonte: energia solar captada em painéis solares no teto do veículo. A primeira proposta surgiu no Pininfarina Blue Car mostrado no Salão de Paris de 2008. O projeto é uma joint venture entre a casa estilística italiana e a fabricante francesa de baterias Bolloré, cujas primeiras unidades estão sendo entregues agora.
Energia solar apresenta magnitude impressionante. Se fosse possível captá-la de forma rentável e prática, apenas uma hora de incidência de luz e calor do astro-rei poderia atender toda a demanda de energia da economia mundial por um ano inteiro! Entretanto, a tecnologia de painéis fotovoltaicos permanece muito distante de aplicação em veículos, entre outros problemas pela superfície exigida: cada metro quadrado de painel dá autonomia de três quilômetros, ou menos, se o tempo for nublado.
Como pura demonstração, o entusiasta Louis Palmer completou, em 2008, a primeira volta ao mundo com seu Solartaxi, veículo para dois passageiros, de peso muito baixo. Rebocava um trailer com painel solar de seis m² e equipado com baterias que permitiam rodar também à noite. Com tempo bom conseguia cobrir até 100 km em 24 horas, aventura para além de um ano.
Porém, há pelo menos uma aplicação prática para essa tecnologia. Células fotovoltaicas embutidas no teto podem gerar eletricidade para um pequeno motor elétrico que ajuda a baixar a temperatura interna de um carro estacionado. A Audi já utiliza esse recurso nos modelos mais caros.
Alguns grandes fabricantes construíram carros experimentais – BMW Lovos, Honda Dream – com intuito de realçar imagem de marca ou usá-los em corridas divertidas de soluções alternativas. Na realidade, os desafios são vários fora os de captar energia e armazená-la a bordo, além dos custos muito elevados.
Palmer tem uma sugestão razoável. Painéis solares no teto de residências podem gerar energia suficiente para recarregar baterias de veículos híbridos ou elétricos por até 20.000 km/ano. Segundo seus cálculos, se todas as casas e edifícios instalassem tais painéis, o mundo alcançaria independência dos combustíveis fósseis.