Se o Salão do Automóvel de Detroit, a se encerrar no domingo (23/1), reflete a retomada de otimismo moderado nos mercados americano e canadense, demonstrou que todos os fabricantes dispõem de soluções alternativas para enfrentar as mudanças por vir. Nenhum deseja ficar para trás, mas as apostas não são uniformes. Alguns partiram para a eletrificação direta, no caso o grupo Renault-Nissan. No entanto, dividir a oferta entre vários tipos de híbridos (incluindo os plugáveis em tomadas) e elétricos a bateria parece bem mais prudente, como a Ford demonstrou com o novo Focus e sua flexível arquitetura.
A Toyota, por sua vez, transformará o pioneiro híbrido Prius em marca própria, lançando outras três versões de carroceria, além do plugável, este em 2012. No outro extremo está o Porsche 918 RSR, um belíssimo cupê, com motor V-8 central-traseiro e dois motores elétricos (total de 774 cv), que surgiu em Detroit disfarçado de modelo de competição e contará, certamente, com versão de rua. A Volvo exibiu o C30 Electric, ainda a lançar, destruído pelo teste de colisão para demonstrar a segurança da bateria e cabos de alta tensão.
Com poucas unidades em circulação, o Chevrolet Volt – híbrido em série de autonomia estendida – ainda aparece em destaque no estande da GM. O carro apresentou boa dirigibilidade, em rápida avaliação nos arredores de Detroit, porém a temperatura ambiente de -4 °C limitou a autonomia a 30 km no modo elétrico. Menos frio dobraria a distância. O motor a combustão, então, recarrega a bateria, ajuda o elétrico e permite rodar 450 km. Preço alto de US$ 41.000, sem incentivos, o inviabiliza no Brasil, mas a subsidiária importará 10 unidades para demonstrações.
Interessante é o utilitário esporte médio-compacto conceitual Vertrek, atração da Ford, cujo estilo influenciará o novo EcoSport. Esse SUV compacto, de dimensões maiores que as atuais, está em desenvolvimento em Camaçari (BA) e será fabricado em 2012 aqui, nos EUA, na Alemanha – e a coluna confirma – também na China e na Índia. O Chevrolet Sonic, lançado em Detroit como antiFiesta, dá boas pistas sobre os sucessores de Celta/Prisma.
O novo e menos rude Jeep Compass, baseado na arquitetura moderna do Grand Cherokee, está nos planos imediatos para a rede Fiat na América do Sul e Europa. “Quero o Fiat 500 mexicano agora no Brasil, pois o câmbio automático exigido pelo mercado americano ainda está indisponível”, disparou Sergio Marchionne, principal executivo da Fiat-Chrysler. Plano de Betim é (ou era...) para seis meses. Marchionne informou ainda à Alta Roda que exportará o 500 do México para a China e confirmou, indiretamente, que a mesma arquitetura da nova geração do subcompacto Panda (final deste ano, na Europa) estará no sucessor do Mille, em opção acessível, na futura fábrica de Ipojuca, Grande Recife (PE).
O Passat americano (mais amplo e barato que o alemão) é outra estreia possível para o Brasil, encaixada acima do Jetta mexicano, embora deva ficar para 2012. O novo Civic, exibido com pequenos disfarces, é a evolução equilibrada do atual, sem perda de identidade. Estará pronto para sair de Sumaré (SP) nesse segundo semestre.
RODA VIVA
MERCADO sul-americano pela primeira vez saltou a barreira de cinco milhões de veículos, em 2010, dos quais mais de 70% comercializados no País. Essa marca supera todo o mercado interno japonês. Há cinco anos a América do Sul representava 7% das vendas mundiais, hoje 15%. Até 2015, o Brasil, individualmente, passa o Japão, atrás apenas de China e EUA.
ISSO explica os grandes investimentos no setor automobilístico nacional. Países maduros, atualmente, mal dão conta de repor a frota sucateada. O Brasil, em médio prazo, pode chegar facilmente a quatro habitantes/veículo, saindo dos seis atuais. Ainda assim estará longe da média abaixo de dois de EUA, Europa e Japão. Ainda há tempo de cuidar da circulação em ruas e estradas.
SEGUNDO Dieter Zetsche, presidente mundial da Daimler (Mercedes-Benz, smart e Maybach), ainda está nublado o futuro elétrico do automóvel. “É o clássico dilema do ovo e da galinha. Quem chega primeiro: a infraestrutura ou os carros?”, respondendo à pergunta em entrevista restrita, em Detroit. A empresa está preparada até para era das pilhas a hidrogênio.
SAÚDE financeira das Três Grandes americanas – interessa aos fornecedores e até a concorrentes – melhorou. A GM alcançou sucesso na reabertura do capital na bolsa de N. York, mesmo objetivo da Chrysler, com ajuda da Fiat, no fim de 2011. A Ford, saudável sem ajuda do governo, pagará bônus de US$ 5.000 aos operários nos EUA. Há dois anos poucos acreditavam.
HÁBITO ruim de acender faróis de neblina em lugar de faróis baixos, no uso urbano, precisa ser combatido. Uma campanha educativa do Contran/Denatran ajudaria bastante. Muitos seguem o modismo sem avaliar as consequências, entre elas a menor visibilidade e o possível ofuscamento de outros motoristas.