Por Fernando Calmon
Certas simplificações de linguagem mal utilizadas no Brasil acabam confundindo conceitos técnicos importantes. Uma delas é o chamado “Piloto Automático” nos automóveis que, na verdade, não passa – ou passava – de um simples controle de velocidade de cruzeiro (Cruise Control, em inglês). No entanto, trata-se de um assunto muito sério e a Europa criou, em fevereiro de 2008, o programa HAVEit, acrônimo em inglês que significa Veículos Altamente Automatizados para Transporte Inteligente.
No total são 17 parceiros entre fabricantes de automóveis, caminhões, componentes e institutos científicos da Alemanha, Suécia, França, Áustria, Suíça, Grécia e Hungria com apoio financeiro dos participantes e da União Europeia. As preocupações existem em função da crescente densidade de tráfego e do aumento da idade média da população que passa a guiar com reflexos menos imediatos, além da massa de informações atualmente disponível aos motoristas. Automação aliviará o estresse ao dirigir. A busca pelo tráfego eficiente persegue o objetivo de torná-lo mais amigável ao meio ambiente.
Recentemente, os parceiros se reuniram na cidade sueca de Boräs para demonstração de sete veículos, com diferentes graus de automação, apresentados pela Volkswagen, Volvo, Continental, Haldex e o Centro Aeroespacial Alemão. Hoje já é possível comprar automóveis com controle ativo de cruzeiro (freia e acelera conforme o programado), assistência para se manter dentro das faixas de rodagem e parada automática abaixo de 30 km/h a fim de evitar colisão ou atropelamento.
O passo adiante surgiu em um Passat equipado com TAP (Piloto Automático Temporário, na sigla inglesa). O sistema programado pelo motorista conserva distância segura do veículo à frente até 130 km/h, mantém o carro dentro das faixas delimitadas no solo e reduz a velocidade antes de uma curva, segundo seu raio, com ajuda do GPS. Também tem capacidade de ultrapassar observando regras (nunca pela direita) e limites de velocidade. Parada e arrancada nos congestionamentos são totalmente automáticas.
Porém, o termo temporário é usado porque, mesmo sem precisar utilizar mãos e pés para guiar, o motorista deve ficar atento ao tráfego na estrada e intervir em caso de necessidade. Na realidade, ainda se considera esse um dispositivo semiautomático, baseado em uma combinação de recursos existentes agora agrupados experimentalmente. Uma câmera interna monitora o grau de atenção do motorista pela movimentação dos olhos e dispara avisos sonoros ou vibratórios.
A Volvo desenvolveu um sistema semelhante para caminhões que funciona sob medida quando há filas de congestionamento nas estradas ou nas cidades. Alivia bastante o trabalho do motorista profissional por frear e arrancar de acordo com a movimentação dos outros veículos e evita acidentes, em geral catastróficos quando envolvem veículos de menor porte.
HAVEit é um programa em constante evolução. Futuras demonstrações serão feitas até o amadurecimento completo das tecnologias, inclusive tornando-as as mais intuitivas possíveis. As ideias lançadas estão previstas para a produção seriada no intervalo de cinco a dez anos, quando o custo ficará mais acessível para modelos pequenos e médios.