Após a intensa divergência entre o Brasil e o México em relação ao acordo automotivo que vigora há dez anos, as discussões entre os dois países parecem ter cessado. Um consenso entre as duas nações latino-americanas resultou na revisão oficializada do acordo, que visa um ganho entre os dois países. O Brasil estava insatisfeito com o desequilíbrio da sua balança comercial em relação à mexicana e ameaçou quebrar o acordo várias vezes.
A onda protecionista do Brasil começou há alguns meses, quando o governo sancionou um aumento no IPI dos carros importados – que não englobava os mexicanos e, recentemente, visando reforçar sua produção nacional, ameaçou quebrar o acordo, já que o México lucrava muito mais de forma desproporcional em relação ao Brasil. Além disso, o nível de nacionalização do México não era o desejado pelo país.
O Brasil mostrou-se irritado, comunicando-se apenas por cartas, o que de certa forma ofendeu os mexicanos. Foram eles que salvaram o acordo, pois o país tem muito o que perder se o acordo, que deixava os carros mais baratos, chegasse ao fim. O Brasil, cujas exportações eram menores que as mexicanas, não perderia muito. Após muitos impasses, ficou decidido que ambos os países terão um limite de, em média, R$ 2,8 bilhões nos próximos três anos. O primeiro ano terá um teto de R$ 2,6 bilhões, enquanto o segundo terá um limite de R$ 2,81 bilhões e o terceiro, R$ 2,95 bilhões.
Com isso, as exportações ficarão mais limitadas. Caminhões e ônibus não entraram no acordo, apesar de ter sido uma das exigências no Brasil de início. Para se ter ideia da diferença, o valor das importações mexicanas foi de R$ 4,3 bilhões, quase o dobro do exigido pelo acordo para o primeiro ano (R$ 2,6 bilhões). O nível de nacionalização de lá deverá subir de 30% para 40% em cinco anos, padrão que deverá ser respeitado também nas linhas de montagem brasileiras.
Esse impasse prejudicou muitas marcas que pretendiam usar o México como base para exportar para a América Anglo-Saxônica e para o Brasil, tais como a Mazda. Enquanto o México é um país onde a mão de obra e os terrenos são baratos, impostos são baixos e boa parte da produção é direcionada aos EUA (o que gera uma grande produção em série), o Brasil tem impostos altíssimos e terrenos caros, o que dificulta um incentivo atraente, economicamente falando, tal qual o mexicano. A medida protecionista visa o crescimento econômico do país, mas esconde o fato de que boa parte do lucro das ditas nacionais são revertidos para as matrizes, sediadas lá fora.
Diversos carros mexicanos são exportados para cá e possuem muita relevância no mercado nacional. Entre eles, estão o Fiat 500, o Ford New Fiesta, a Chevrolet Captiva, o Fiat Freemont e seu gêmeo da Dodge, o Journey, o Honda CR-V, os Nissan March, Versa, Tiida e Sentra, o Volkswagen Jetta e a Jetta Variant. Já os modelos brasileiros que são vendidos por lá não são poucos, mas a diferença em números é grande. Gol, Voyage (Gol Sedan por lá), CrossFox, Fiesta RoCam, EcoSport e alguns outros modelos são fabricados aqui e enviados para lá.
O acordo não chegou ao fim, mas afeta diretamente modelos que exigem uma grande demanda, como o CR-V, o March e o Versa. Os dois últimos, no entanto, serão beneficiados pela fábrica de Resende (RJ), que começa a funcionar dentro de dois anos. Em todo o caso, o mercado precisará se adaptar, e as condições são melhores do que um possível fim. Apesar disso, especialistas apontam que muitas fábricas que seriam construídas por lá, principalmente da Honda e da Mazda, poderiam ser canceladas, já que as marcas se encontram em um âmbito onde as exportações serão limitadas para ambos os países. Uma investida nas fábricas para direcionar parte da produção ao Brasil não seria tão adequado. Parece que a novela não terminou…