“Honra em oito cilindros em V. Se nunca escutou, procure a orquestra mais próxima”
Muitos chamam o Opala de clássico. Eu concordo. Mencionam, às vezes, o tradicional Fusquinha e a Fiat 147. E como não lembrar-se do pequeno valente Chevette? Para todos esses eu assino nesse atestado de tradição. Mas vamos combinar? Eu quero torque de incomodar a coluna! Mustang e Maverick representam o 'M'. Já o Camaro e o Corvette começam com 'C'. Forma-se, então, o dueto 'MC'. Leia-se: Muitos cavalos.
Preste bastante atenção: eles já são "muscle cars". Entretanto irei além. Com maior profundidade traduz-se: Chevrolet Camaro Z28. Corvette Stingray. Ford Mustang Shelby Cobra GT 500-KR e, finalmente, Maverick GT. Ou Maveco, para os íntimos.
Minha audição sente o zunido. Pois sim. Eles são V8. Honra em oito cilindros em V. Se nunca escutou, corra ao procurar a orquestra mais próxima. Você precisa da brisa dessa sinfonia para viver em plenitude.
Nesse mundinho já me deparei com cilindros em V de todo o tipo. V2 e V4 para motos, normalmente. V6, V10, V12 e até V16. Caro leitor; nada se compara a um V8 bem regulado estalando no seu ouvido enquanto acaricia-se o acelerador de um desses brinquedos para marmanjos. A estrutura do automóvel treme em configurações de motores mais violentos.
Dói. Machuca muito o peito ter de deixar de acelerar uma fera como essas quando o velocímetro já bateu a velocidade permitida na via. O som da aceleração faz o mundo inteirinho parar por alguns instantes. A gente sente a máquina por debaixo do capô trabalhando ao sinal dos nossos pés. É apaixonante. Mesmo.
Obriguei-me a discursar sobre a sensação sensorial porque iremos adentrar no universo dos grandes diamantes. Lapidados minuciosamente. Manipulados para serem detalhadamente brutos. Inicia-se, a partir de agora, a degustação dos raros e antigos vinhos da Ford e da GM.
Atentando-me ao ano de 1969, uma só palavra bloqueia todos os meus outros pensamentos: Carroceria. Inexplicável é a fluidez com que as linhas de um Maverick e um Stingray comportam-se ainda naquela época! Era década de 60. Tudo bem que quase o início dos anos 70. Mas mesmo até hoje (principalmente naquela famosa terra do futebol) não se fabrica tanto charme sobre quatro rodas com tanta frequência.
O Chevrolet Corvette, em sua forma mais enxuta, configurava-se em um V8 de 435cv de potência máxima. Tinha como joelhos uma suspensão dianteira independente de braços triangulares e molas. Já para a parte de trás também uma suspensão independente, contudo com feixes de molas transversais e braços triangulares inferiores. O peso máximo era de 1500 kg, assim como sua velocidade, de 275 km/h. O 0 a 100 km/h ficava pela casa dos 5,4 segundos. Números bem relevantes para os padrões de 40 anos atrás.
Falta-me delicadeza para descrever o Ford Maverick GT. Sorte a minha ele se descrever por si só. Apesar da feição invocada, certamente esse automóvel não assusta ninguém. Mesmo ele bebendo litros de gasolina. Muitos Litros. Pessoas o idolatram. Quem está por volta dos sessenta, setenta anos de idade, sabe do que estou falando.
Os números aqui não são, na verdade, o que mais importa. A história de sobrevivência desse guerreiro, todavia, é o que é o foco da situação. Um coração de 5.0 V8 ajuda um pouquinho, admito. E o ronco. Estar na presença desse motor V8 302 de 197 cavalos quando a ignição é acionada é indescritível.
Quando amarelo, é considerado um astro dos dias de hoje. No entanto, o Camaro Z28 já arrancava suspiros desde 1967. Um segredo: meu sangue circula mais rápido quando me deparo com uma relíquia de cabelos grisalhos. O Chevrolet antigo é ímã para o meu olhar.
Eu só torço muito, para que um dia se eu me deparar com um Z28, (o que duvido muito), que ele não passe a 225 km/h, em sua velocidade máxima. Ou não arranque no semáforo para corroborar sua faixa de 7 segundos de 0-100 km/h. Já que assim, ficaria bem complicado dar a ele toda a necessária apreciação que ele merece. E, quem sabe até, não bater aquela rápida foto da câmera do celular.
O Rei da Estrada. “King of the Road” foi assim intitulado. O Rei de tudo. Sinto frio e calor ao mesmo tempo com o Mustang e o seu inseparável cavalo corredor. Porém, é com o bote da serpente que vamos nos preocupar. O Shelby Cobra GT 500-KR assim foi batizado para ser esclarecedor. ‘KR’ para justificar seu batismo. E, o símbolo da Naja na grade frontal para intimidar os pequenos ratos do asfalto.
A ficha técnica não tem como desagradar. Potência: 339 cv a 5.200 rpm. Torque de 60,8 kgfm a 3.400 rpm e um desempenho espetacular de, por volta, 6 segundos em 0-100 km/h. Sentir a textura do volante e o conforto do banco deve ser algo parecido como estrelar em um papel principal em Hollywood. Olhos e mais olhos de atenção e a sensação de que está pertinho de chegar à calçada da fama. É um estereótipo de carro de cinema. Como é.
Popularmente comentam em rodas de bate-papo que nada é mais sábio do que palavras de mãe. A minha, volta e meia, retrucava pelos cantos: "Panela velha é que faz comida boa". Curiosamente, em tempos de garoto, eu não dava bola. Eu nem acreditava.
Por Thiago Andrade Ramos