Produtos-chave na América do Sul, modelos estão mais sofisticados e equipados
Com 32 anos de carreira, o Volkswagen Gol entra em sua sexta fase acompanhado do Voyage, que está em sua terceira por ter pulado algumas etapas. Os dois, lançados em 2008 às vésperas de uma revolução no design da Volkswagen, agora se enquadram no estilo já visto em todos os modelos globais da fabricante alemã. Mas esta reestilização foi um pouco além do que se pode ver.
Design
Pelos faróis mais espichados, faróis de neblina com formatos próprios e pelo posicionamento dos elementos na dianteira, quem está por dentro do setor não irá confundir Gol com Fox. Já os leigos… As versões Power e Comfortline são privilegiadas por elementos cromados, na grade e na entrada de ar inferior. Gol e Voyage continuam tendo a mesma frente, sem qualquer intenção de diferenciação, como fez a arqui-rival Fiat com Palio e Grand Siena.
Mas cada traseira segue uma filosofia. O Gol tende ao Polo vendido na Europa. O forte vinco que interligava o topo das lanternas foi suavizado, enquanto a linha que interligava a base das lanternas subiu, acompanhando o recorte das mesmas. O Voyage não segue a nova geração do Polo sedã, e busca um pouco de inspiração em Jetta e Passat para as lanternas mais estreitas e que avançam sobre a tampa do porta-malas, que ante era limpa. Nos dois há refletores na base dos para-choques, mas no Gol ficam restritos à versão Power – e fazem falta nas outras versões.
No interior, as mudanças comum a todas as versões são as novas forrações para bancos e parte do painel de portas, o quadro de instrumentos tem iluminação branca em LEDs enquanto no resto da cabine a cor é vermelha, o pomo do câmbio é novo, e traz inserto em black piano, assim como o console central. As saídas de ar são novas, e agora tem ajuste milimétrico e os acionadores do ar-condicionado – opcional – tem inserto metálico.
O comando de luzes esteve no painel da linha Gol desde o início, até serem retirados na geração lançada em 2008. Agora ele retorna à parte inferior esquerda do painel, melhorando a ergonomia, mas apenas nas versões Power e Comfortline. Estas são também as únicas que podem ter terceiro encosto de cabeça, mas é um opcional. Ao menos os cintos laterais traseiros passaram a ser retráteis.
Entre os itens de série, estão presentes, desde as versões 1.0, itens como vidros dianteiros elétricos, travamento central e abertura interna da tampa do porta-malas além de limpador, lavador e desembaçador do vidro traseiro (para o Gol) com temporizador, que inclusive tem sua velocidade alterada de acordo com a velocidade do carro.
Motores
As anunciadas alterações técnicas do motor 1.0 VHT vieram. Não se buscou maior potência, mas sim melhoria no consumo, nas emissões e na disponibilidade de força em baixa rotação. Com aumento do coletor de admissão, mudanças nos retentores das válvulas, do eixo comando, da flange do virabrequim e adoção de nova ECU, o motor está até 4% mais frugal e dá partida em tempo até 41% menor que o antigo VHT. Quando abastecido com Etanol, o torque é de 10,6 kgfm a 3.850 rpm e 76 cv a 5.250 rpm. Com o tanque cheio de gasolina, o o torque é de 9,7 kgfm (95 Nm) a 3.850 rpm e a potência chega aos 72 cv a 5.250 rpm.
Interessante é o pacote BlueMotion Technology disponível para as versões 1.0. Custa apenas R$ 324 e é composto por pneus com menor resistência à rolagem nas medidas 175/70 R14 e indicadores digitais de consumo instantâneo de combustível e de marcha ideal, como no Fox BlueMotion. A promessa é de uma melhoria de consumo dos modelos na ordem de 8%.
O motor 1.6 também recebeu mudanças para redução do atrito objetivando uma autonomia maior, mas ainda é um VHT. Quando abastecido com etanol a potência do motor 1.6 tem torque de 15,6 kgfm a 2.500 rpm e chega aos 104 cv a 5.250 rpm. Com o tanque inteiramente abastecido com gasolina , a potência é de 101 cv a 5.250 rpm e o torque é de 15,4 kgfm a 2.500 rpm. O câmbio I-Motion é opcional para as versões topo de linha, somente com esta motorização.
Test-drive
Florianópolis (SC) – Após as apresentações técnicas, era hora de partir para o test-drive em trecho no norte da ilha de Florianópolis. As mudanças mais perceptíveis seriam no convívio com o carro, pois dinamicamente Gol e Voyage continuam com o mesmo comportamento sólido e suspensão justa. Optei por fugir ao meu gosto, iniciando com um Gol I-Motion 1.6.
Meu contato com câmbios automatizado resumia a uma volta rápida com um dos primeiros Stilo Dualogic, e as recordações não são as melhores. Mas a transmissão ASG da Volkswagen demonstra que estes sistemas estão sendo aprimorados. As trocas em modo “Drive” são demoradas, mas suaves. Não há tranco, mas é inevitável desaceleração do carro enquanto os sistemas eletro-hidráulicos acionam a embreagem e engatam a próxima marcha. A demora nas trocas não é muito legal quando é necessário kick down¹, por isso eu ainda prefiro que o sistema eletro-hidráulico composto pelo meu braço direito e minha perna esquerda se encarregue da caixa MQ200 em versões manuais.
Com a tecla “S” acionada as trocas são feitas em giros maiores, e acontecem mais rápidas. Neste caso nota-se um ligeiro tranco, como ocorre quando se tira o pé da embreagem rápido. Alguns podem não gostar do modo esportivo, como o sistema ECO Comfort não gosta. Através do computador de bordo disponível em unidades com I-System ele me pediu gentilmente para passar ao modo “Drive” para economizar combustível. Mas já haviam passado cerca de 20 km, era hora de partir para outro carro.
Coube a um Voyage 1.0 I-Trend provar as qualidades do motor 1.0 TEC. O motor até responde bem, melhor até que alguns concorrentes, mas não há como fugir da falta de força em aclives e da necessidade de redução de marcha, mais pressão no acelerador e paciência para realizar ultrapassagens. Isso é comum à maioria dos carros com motores 1 litro, mas nesse caso há harmonia entre a transmissão manual bem escalonada e o motor.
Com transmissão manual, o ECO Comfort é ainda mais atuante. Se você não obedece o indicador de marcha correta ele pede para que você o faça. Eu, oprimido na minha reles função de motorista, passei a o acatar logo na primeira bronca.
O funcionamento deste sistema, bem como do “Comfort Blinker”, que possibilita que o motorista, com um leve toque na alavanca de seta, indique a direção que pretende ir e do sistema ESS (do inglês, Sinal de Frenagem de Emergência), que faz com que as luzes de freio pisquem quando o pedal de freio é pressionado de forma acentuada, e ligue as luzes de alerta quando o carro para, só foi possível com a adoção de nova arquitetura eletrônica, que economiza fios e melhora a integração dos sistemas.
O que percebi foi a evolução de um bom conjunto, tanto em design como em questões técnicas. Ainda falta conhecer o novo Gol Rallye e a nova Saveiro para fechar o ciclo de renovação da família. Fica para descobrirmos nos próximos quatro anos se o próximo Gol ganhará uma nova reestilização ou será um modelo totalmente novo.
¹Kick down: Este recurso está presente em veículos com transmissão automática. Um botão sob o acelerador. quando pressionado pelo acelerador em final de curso, provoca redução de marcha para melhorar as respostas do motor, algo bem no momento de uma ultrapassagem, por exemplo. Ao aliviar a pressão no acelerador entra a marcha seguinte.
Texto e fotos: Henrique Rodriguez
Viagem a convite da Volkswagen do Brasil